Revista Arte e Palavra - Volume 1
26 se sobrepunham sem fronteiras definidas. No colo o bebê que sorria e brincava com o bico do seio da menina mãe. Ela veio pelas mãos da Maria da ONG e queria saber como podia escapar. O pai morto muito cedo deixara de legado à mãe, “camelô na Uruguaiana”, cinco filhos menores. Jéssica era a do meio, mas, orgulhosa, disse: “Dôtor sou a mais guerreira!” Tinha se prostituído cedo, mas isso não lhe trazia qualquer culpa ou desconforto, antes, vaidade: “Sempre me achei gostosa.” Mas agora tinha chegado ao limite. Seu homem, o chefe do tráfico na comunidade, ao percebê-la fragilizada pelo menino que lhe sugava a seiva até as entranhas, começou a desprezá-la. “Bateu muito, dôtor. Depois me deu pros hôme.” Tivera que voltar à prostituição, mas já agora sem qualquer lucro, e semana sim e na outra também, apanhava.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NTgyODMz