ARTE E PALAVRA

Por fim, uma palavra sobre a obra de capa deste segundo número da Revista Arte e Palavra, “Retrato de um Tio”, de 1919, de autoria de Ismael Nery, uma aquarela sobre cartão, que integra a Coleção Gilberto Chate- aubriand, do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Ismael Nery nasceu em Belém, Pará, em 1900, e veio morar no Rio de Janeiro ainda jovem. Em seus trinta e três anos de vida, de- dicou-se à arte, mas, curiosamente, só viria a ter suas obras reconhecidas em homenagens póstumas, já na década de 1960. É considera- do um dos principais pintores do modernis- mo brasileiro, mas não se identificava com os modernistas brasileiros de quem foi contem- porâneo no início do século XX. Não tinha te- máticas nacionalistas, remetendo-se sempre a figuras humanas, em retratos e autorretratos, sendo a fase surrealista de sua obra considera- da a mais importante e promissora. Em “Retrato de um Tio”, a figura humana trazida por Ismael Nery nos observa com um olhar instigante, enigmático, irônico ou céti- co, meio chapliniano, como nos remete a fi- gura retratada. E, observando esse homem de flor vermelha na lapela, somos conduzidos ao objetivo de todo este projeto que é exatamen- te o de refletir, pela arte e pela literatura, so- bre os diversos eus e os diversos outros com os quais interagimos na vida social. D es . A na M aria P ereira de O liveira Presidente da Comissão de Biblioteca e Cultura Lygia Fagundes Telles, certa feita, ao ser indagada sobre se achava que a literatura aju- dava as pessoas, respondeu que o leitor não sabe, mas que é seu cúmplice, no melhor sen- tido da palavra, e que ao escrever ela estende uma ponte e diz “venha”. Pedindo licença à extraordinária Lygia para usar essa imagem tão poética e tão verdadeira, vamos, então, agora, atravessar as diversas pontes que fo- ram construídas pelos colaboradores deste projeto e ser seus cúmplices.