ARTE E PALAVRA
29 ções que ganham novos significados na relação psicanalítica. No conto, Rodolfo revive muitas emoções. Os sentimentos parecem ser os mesmos de sem- pre, sem solução. Como se a vida ou o tempo fossem estáticos, ficava revivendo a dor de anos atrás como se fosse de hoje. Todo o viver fica- va impregnado dessas dores insuportáveis. Mas não chorava, suava, suava por todos os poros, ficava nojento. “ Não queria suar, mas o suor medo- nho não parava de escorrer, manchando a camisa de amarelo com uma borda esverdinhada, suor de bicho venenoso, traiçoeiro, malsão ”. Ele próprio não se suportava. “ Era menino no dia em que quis morrer para não transpirar mais .” Há outras passagens em que aparece o de- sejo de não existir, não sentir. Mas a vida con- tinuava e continuou. Quando não conseguimos dar conta dos sentimentos e ideias, o corpo fala. Muito se estuda sobre psicossomática, a mente que afeta o corpo e o corpo que afeta a mente. O trânsito é de mão dupla e constatamos que essa separação de mente e corpo é puramente teórica para facilitar o estudo. Podemos corar de vergonha, gaguejar por não dar conta dos sen- timentos que as palavras carregam, fazer uma úlcera ou mesmo enfartar. Não é à toa que o coração é um símbolo de amor. E amor nunca está sozinho, com ele vêm muitos outros senti- mentos, como ciúmes, o mais famoso. Voltando à psicossomática, quando um bebê mama, recebe mais que leite, recebe amor. A primeira relação de amor é com a mãe. O lei- te, o colo, a voz, os cheiros são vivências que ficam como marcas mnêmicas dentro de todos nós. Lygia, a meu ver, faz uma linda descrição
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