Relatórios de Pesquisa Nupegre | Número 4

64 Relat. Pesq. NUPEGRE, Rio de Janeiro, n. 4, 2019. corresponde ao gênero por ele exteriorizado sexual, emo- cional e socialmente. Identificada tal condição, cumpre- -nos aferir a possibilidade de alteração do seu prenome para um condizente com o sexo que entende pertencer. 117 Contudo, outros, tais como os transexuais, não encontram essa correspondência entre sexo e gênero, vivendo em descompasso com o sexo biológico - genitália e configu- ração genética - e a forma como se veem e vivenciam sua sexualidade - gênero. 118 A compreensão da transexualidade ou transgeneridade em ter- mos binário é frequentemente reproduzida. Guedes trabalha com a no- ção de “máquina de gênero binário”, retomando a noção de “máquina desejante” de Deleuze e Guattari. 119 Esta seria um sistema de cortes, que, no sentido adotado pela autora, contribui para compreensões estáveis de gênero. Os corpos produzidos pela “máquina de gênero binária” seriam “não ambíguos”, “completos” e “saudáveis”. Guedes retoma os estudos de Bento (2006) sobre pessoas trans no período pre- cedente à cirurgia de transgenitalização, onde, de acordo com as auto- ras, a equipe estaria menos interessada na busca de um diagnóstico e em busca de uma “‘assepsia’ nas performances dos/as candidatos/as, cortar paródias de gênero, cortar tudo que lembre os seres abjetos que devem ser mantidos à margem: os gays, as travestis e as lésbicas” 120 . O “verdadeiro transexual”, conclui a autora, deve estar aderido ao modelo heteronormativo de vida. Outra pesquisa exploratória realizada por Arán, Zaidhaft e Mur- ta no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF/UFRJ), com transexuais que procu- raram atendimento com o objetivo de realização de cirurgia de trans- 117 TJSE Apelação 201700717680 Data: 05/09/2017, p. 3 118 TJBA Apelação n.º 0557848-79.2014.8.05.0001 Data: 17/10/2017, p. 6 119 GUEDES, Cíntia. Entre fluxos de silicone e máquinas de gênero: um comentário sobre a produção de corpos trans*. In: Protagonismo trans*: política, direito e saúde na perspectiva da integridade. Niterói: Editora Alternativa, 2015, p. 86. 120 BENTO apud Guedes, 2015, p. 88.

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