Relatórios de Pesquisa Nupegre | Número 4
44 Relat. Pesq. NUPEGRE, Rio de Janeiro, n. 4, 2019. eram tratados quase que de forma indistinta. Em seguida, Harry Ben- jamin, endocrinologista alemão radicado nos Estados Unidos, cria a noção de “sujeito transexual” e o “transexualismo” em 1953, quando publica no International Journal of Sexology seu artigo “Travestismo e transexualismo”. 72 Em seguida, em 1966, o livro O fenômeno transe- xual , também de autoria de Benjamin, estabelece critérios para “diag- nóstico” do “verdadeiro transexual”. 73 Além de fornecer um método de distinção entre transexualidade verdadeira e falsa daqueles/as que chegavam aos hospitais demandando a cirurgia, o autor defendia que o único tratamento possível era a cirurgia de transgenitalização, recha- çando, assim todos os tratamentos psicoterapêuticos e psicanalíticos. A articulação entre os discursos teóricos e as práticas re- guladoras dos corpos ao longo das décadas de 1960 e 1970 ganhou visibilidade com o surgimento de associa- ções internacionais, que se organizam para produzir um conhecimento voltado à transexualidade e para discutir os mecanismos de construção do diagnóstico diferenciado de gays , lésbicas e travestis. Nota-se que a prática e a teo- ria caminham juntas. Ao mesmo tempo em que se produz saber específico, são propostos modelos apropriados para o “tratamento”. Juntamente com a criação de associações internacionais para estudo do fenômeno transexual, como a Associação Internacional de Disforia de Gênero Harry Benjamin (HBIGDA) o “transexualismo” é incluído em diversos guias e sistemas de classificação internacional para auxiliar no “diagnóstico” e “tratamento”. Na década de 1980, após estudos com pessoas transexuais, os dois principais documentos para orientação de diagnóstico e tratamento, o CID (Código Internacional de Doenças), em sua 10ª versão, e o DSM (Manual de Diagnóstico e Esta- tísticas de Distúrbios Mentais), em sua 4ª versão, ambos reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde, incluem o termo “transexualismo” 72 BENTO, 2006, Op. Cit., p. 40 73 BENTO. Op. Cit., 2008, p. 96
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