Relatórios de Pesquisa Nupegre | Número 4
43 Relat. Pesq. NUPEGRE, Rio de Janeiro, n. 4, 2019. 3.2. PATOLOGIZAÇÃO: CORPOS PASSÁVEIS E ADEQUADOS Durante a primeira metade do século XX, os estudos sobre sexua- lidade, que até então majoritariamente se concentravam na exploração das diferentes formas de manifestação do sexo e do desejo através da organização e sistematização dos novos padrões de corpo, perderam espaço para estudos sobre o corpo que objetivavam a “prevenção da anormalidade”. 68 A partir de então, as novas gerações de estudiosos começam a se pautar por “visões normativas e moralizantes de uma ‘natureza heterossexual original’” 69 e, consequentemente, diversas ma- nifestações da sexualidade passaram a ser consideradas desvios ou anormalidades. Na segunda metade do século XX, de acordo com estudos (Ben- to, 2006 e 2008; Leite, 2008 e Lima, 2016) essa produção deu espaço à psiquiatrização de comportamentos. 70 Apesar do diálogo inicial entre militantes e cientistas, du- rante a primeira metade do século XX, a balança pesou mais para a patologização e malignidade social das ditas “perversões”. O diálogo se manteve, mas tornou-se, sem dúvida, desigual. O foco da pesquisa científica mudou gradualmente, deixando de buscar uma base “natural” e “normal” destas sexualidades, para a prevenção da “anor- malidade”, voltando-se a discutir a aceitação social de su- jeitos “desviantes sexuais” e sua não patologização apenas a partir do final dos anos 60 deste século. 71 Segundo Bento, o termo “transexual” foi utilizado pela primeira vez por Caudwell, em um estudo sobre o transexual masculino, que pela primeira vez estudou “as características específicas dos transe- xuais”. Até então, homossexualidade, travestilidade e transgeneridade 68 LEITE, Jorge. 69 LEITE. Op. Cit., p. 111 70 Sobre a patologização da sexualidade, cfr.,entre outros: LEITE, Op. Cit., BENTO, Op. Cit. 71 LEITE. Op. Cit., p. 112
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