Relatório NUPEGRE

34 Relat. Pesq. NUPEGRE, Rio de Janeiro, n. 6, 2022. ciona. A análise interseccional evidencia a maior vulnerabilidade de mulheres negras, indígenas, deficientes, imigrantes e moradoras de comunidades, que historicamente sofrem com falta de saneamento e acesso a serviços de saúde e ao sistema de justiça. Mulheres com deficiência sofrem em razão de medidas de distanciamento social, da interrupção de suas redes de apoio e da falta de acessibilidade a informações básicas, além de não estarem incluídas no grupo que recebe auxílio emergencial. Lugares com acesso precário a serviços de saúde – como o campo, quilombos, terras indígenas e favelas – estão ainda mais vul- nerabilizados com as medidas de austeridade que tornam ainda mais complicado o acesso aos serviços dos órgãos que compõem o sistema de justiça (como a Defensoria Pública, as Polícias e o Poder Judiciário). A violência doméstica e familiar é altamente letal para mulhe- res no Brasil. No entanto, muitas mulheres ainda enfrentam dificulda- des quando buscam as autoridades judiciárias a fim de comunicar as violências sofridas. Uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que 52% das vítimas não toma atitude frente à violência sofrida e, “dentre as que buscaram algum tipo de ajuda, apenas 22,2% procuraram órgãos oficiais, enquanto 29,6% procuraram órgãos não oficiais (como família, amigos e igreja)”. 32 Outra pesquisa realizada pelo CNJ em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA acerca da atenção dispensada às mulheres vítimas de violência nas unidades judiciais revela uma série de práticas revitimi- zantes e que contribuem para desestimular a busca pelo Poder Judici- ário, tais como: falta de cuidado em resguardar as mulheres de seus agressores; ríspida interrupção da vítima durante as audiências; insufi- ciência ou inexistência de assistência jurídica para as mulheres durante a fase da investigação e do processo penal; ausência de informação adequada, já que, com frequência, as mulheres saem das audiências sem saber o que aconteceu e não têm informação sobre o processo, entre outras. 33 32 BUENO, Samira et al. Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil 3ª edição – Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2021, p.18 33 CNJ (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA); IPEA (INSTITUTO DE PESQUISA APLICADA ECONÔ-

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