Relatório NUPEGRE
33 Relat. Pesq. NUPEGRE, Rio de Janeiro, n. 6, 2022. As autoras Kimberlé Crenshaw 29 e bell hooks 30 trazem contri- buições para o debate sobre o tema pesquisado, pois desenvolvem estudos sobre a interseccionalidade, que desafiam a estabilidade e homogeneidade da categoria mulher. Quanto maior o número de mar- cadores sociais sobrepostos que uma mulher une em si, mais intensa será a experiência de opressão e de violência sofridas socialmente. O ponto comum entre as autoras é o recorte de gênero, raça e classe so- cial. Mas, cabe destacar, possuem abordagens diferentes. Crenshaw é conhecida por ter conceituado a interseccionalidade para pensar as múltiplas interações e os marcadores sociais nas vidas das mino- rias, enquanto hooks possui forte atuação na crítica à teoria feminista que pauta as demandas e problematizações a partir de uma perspec- tiva universalista e desconsidera as posições sociais e as experiên- cias das mulheres negras. A autora elaborou críticas ao movimento feminista com objetivo de propor um feminismo que transforme as estruturas de opressão interseccionadas, principalmente o sexismo, o racismo e o capitalismo. Destaca-se, ainda, o pensamento de Lélia Gonzalez 31 , que desde o início da década de 1980, antes mesmo do surgimento dos estudos da interseccionalidade nos Estados Unidos, já denunciava a sobreposi- ção das variáveis de opressão nos corpos femininos negros. Segundo a intelectual, o entrelaçamento das categorias do racismo e do sexismo produz processos de violência específicos aos corpos femininos ne- gros. Gonzalez pontua que os estereótipos que conformam as subje- tividades das mulheres negras constroem espaços de desautorização e desqualificação das dores e violências experienciadas pelos corpos femininos negros. Essas autoras nortearam a reflexão acerca da pandemia como um agente catalisador da violência de gênero estrutural de diferen- tes formas e forças, a depender dos corpos aos quais ela se dire- 29 CRENSHAW, Kimberle. A intersecionalidade da discriminação de raça e gênero. Cruzamento: raça e gênero. Disponível em: https://static.tumblr.com/7symefv/V6vmj45f5/kimberle-crenshaw.pdf 2002. Acesso em: 11 mar. 2021. 30 hooks, bell. Teoria feminista: da margem ao centro. São Paulo: Perspectiva, 2019 31 GONZALEZ, Lélia. Racismo e Sexismo na cultura brasileira. In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244.
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