Relatório NUPEGRE

32 Relat. Pesq. NUPEGRE, Rio de Janeiro, n. 6, 2022. desse processo histórico. Mulheres e crianças correm um maior risco de violência doméstica e abuso sexual, em tempos em que os recursos e serviços se mostraram cada vez mais racionados. O lar, para muitas, não é sinônimo de proteção. A violência doméstica, por anos invisibi- lizada, passa a ser ainda mais invisível em um momento em que as estruturas do Estado estão voltadas ao combate da pandemia e têm serviços de atendimento reduzidos ou cancelados sem nenhuma su- pervisão externa. O confinamento provocado pela pandemia e as medidas de com- bate ao coronavírus exacerbaram, em diversos países, a situação da violência doméstica e familiar. A tensão global vivida nesse período se refletiu nos lares e aumentou o trabalho doméstico, historicamente re- alizado por mulheres e sem qualquer remuneração. O cuidado com as crianças (que tiveram as aulas suspensas) e com os idosos (que reque- rem atenção especial), além das tarefas habituais de cuidados com a casa, somados à instabilidade no emprego/trabalho e à incerteza em relação ao futuro da pandemia, fizeram com que os casos de violência doméstica aumentassem em muitos países. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos – ACNUDH, as mulheres representam grande parte do trabalho precário e informal, com menor remuneração, incluindo o trabalho doméstico, bem como podem sofrer maior impacto econômi- co e, consequentemente, de sua autonomia em razão das medidas de austeridade para frear a pandemia. A instituição também cita a falta de inclusão digital que limita ainda mais o trabalho de casa. 27 Não só as trabalhadoras informais são afetadas. Em um país onde 30 milhões de famílias são chefiadas por mulheres, ações do go- verno como a MP 936/2020, que reduz proporcionalmente a jornada de trabalho e os salários em até 70%, têm consequências graves no susten- to de mulheres assalariadas e suas famílias. 28 27 ACNUDH. Declaración del Grupo de trabajo sobre la discriminación contra las mujeres y ni as. Las respues- tas a la pandemia de COVID-19 no deben descartar a las mujeres y ni as, 2020. Disponível em: https://www. ohchr.org/SP/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?Ne-wsID=25808&LangID=S. Acesso em 10 mar. 2021. 28 CAVENAGHI, S.; ALVES, J. E. D. Mulheres chefes de família no Brasil: Avanços e desafios. Rio de Janeiro: ENS-CPES, 2018. 120 p.; 21 cm (Estudos sobre Seguro, no 32).

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