Relatório NUPEGRE

31 Relat. Pesq. NUPEGRE, Rio de Janeiro, n. 6, 2022. visão sexual do trabalho, uma relação de poder, segundo a autora, fortaleceu o processo de acumulação capitalista que resultou em mais desigualdades entre os gêneros e a alienação generalizada dos trabalhadores entre si. A diferença de poder entre mulheres e homens e o ocultamento do trabalho não remunerado das mulheres por trás do disfarce da inferioridade natural permitiram ao capitalismo ampliar imen- samente “a parte não remunerada do dia de trabalho” e usar o salário (masculino) para acumular trabalho feminino. Em muitos casos serviram também para desviar o antagonismo de classe para um antagonismo entre homens e mulheres. Dessa forma, a acumulação primitiva foi, sobretudo, uma acumulação de di- ferenças, desigualdades, hierarquias e divisões que separam os trabalhadores entre si e, inclusive, alienaram a eles mesmos. 24 No regime capitalista, a família passa a ter uma função importan- te de acordo com Fonseca, já que “a base material para a discriminação contra as mulheres seria sua responsabilidade primária pelo trabalho doméstico não-remunerado no interior da unidade familiar”. 25 Ao apre- sentar o debate sobre o trabalho doméstico sob a perspectiva da repro- dução social, a autora apresenta a centralidade da família como uma estratégia capitalista de dominação. Nas diversas funções de estabi- lização do capitalismo, a família serviria para a manutenção cotidiana, invisível e gratuita da força de trabalho e a reprodução de gerações futuras de trabalhadores. Assim as mulheres desempenhariam função importante, ainda que não reconhecida e não remunerada na “produ- ção” da vida pessoal dos trabalhadores, na organização da vida privada e funções domésticas indispensáveis ligadas aos cuidados com o lar. 26 Essa análise é relevante não só para compreender os processos de submissão e (re)produção de violências de gênero, classe e raça, mas para introduzir a temática da pandemia enquanto potencializadora 23 FREDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva/ Silvia Frederici. Tradução: Coletivo Sycorax. São Paulo: Elefante, 2010. 24 Ibidem, p. 232.233. 25 FONSECA, Rhaysa Sampaio Ruas da. Unidade, diversidade, totalidade: a teoria da reprodução social e seus contrastes / Rhaysa Sampaio Ruas da Fonseca. – 2019, p. 38. 26 Ibidem , pp. 36 e ss

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