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Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



“Queria deixar de ser objeto de estudo para ser a estudiosa”, diz primeira aluna transgênera da EMERJ

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No Rio de Janeiro, Maria Eduarda Aguiar da Silva foi a primeira advogada transgênera a obter a troca social do nome na carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ). E mais um pioneirismo alcançou: é a primeira aluna trans a cursar uma pós-graduação na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.

Aluna do curso “Gênero e Direito”, Maria Eduarda aprofunda seu conhecimento teórico em disciplinas sobre teorias feministas, direito das mulheres, políticas públicas, bioética, Lei Maria da Penha, entre outros assuntos relacionados à área. A advogada segue na luta pelos Direitos Humanos e direitos dos LGBTs (lésbicas, gays, trans e travestis) e trabalha prestando assessoria jurídica àqueles que buscam atendimento em casos de homofobia, processos de retificação de nome e diversos outros tipos de atendimento. Maria Eduarda busca com o curso empoderamento acadêmico: “Quanto mais vulnerável forem, menos empoderamento as mulheres transgêneras terão”.

Maria Eduarda luta também por um espaço maior para pessoas transgêneras em universidades. “Só há quatro doutoras trans no país; são poucas que conseguem cursar uma universidade e se formar. Dos dados que estimamos, 90% dos LGBTs vivem na marginalidade, sem a ajuda da família, morando na rua ou em locais de prostituição”.

“É bom estar na EMERJ, é bom poder dizer que eu sou aluna daqui, porque eu nunca pensei que poderia estar na Escola da Magistratura. Vivemos hoje num mundo de preconceito, então estar aqui tem muita importância. É relevante tanto para minha qualificação técnica e para abrir portas para outras pessoas trans como para a minha história, que está sendo contada aqui. Eu queria deixar de ser objeto de estudo e queria ser a estudiosa. Queria poder estar dentro do meio acadêmico, porque nós sempre somos objetos de estudo, pessoas que são entrevistadas, que são observadas como fenômenos social. E agora eu sou também uma estudiosa e terei grande bagagem de conhecimento”, disse a advogada e em breve pós-graduada pela EMERJ.

A advogada contou: “o curso vem me permitindo elaborar estudo sobre a questão do feminicídio, com recorte na população trans, pois há uma carência de olhares para isso. Tivemos um aumento de assassinatos de mulheres trans no país e um aumento de assassinatos de LGBTs em geral. É preciso ter uma delegacia especializada para tratar desses casos, para que se criem documentos formais, com estatísticas oficiais”.

“Cursar essa pós-graduação na Escola da Magistratura é também poder ser exemplo. Queria produzir algum tipo de conhecimento e mostrar para as pessoas que ser transgênero ou não é indiferente. Todos nós temos capacidade de progredir, de ser pessoas do bem e, portanto, deveríamos ter as mesmas oportunidades. Quando vencermos o preconceito, iremos mudar isso, vamos ter uma sociedade de pessoas diversas, e essas pessoas vão ter as mesmas oportunidades. Você acha que eu não fico chateada de não ver transgênero em lugar nenhum? É muita exclusão, por isso a reflexão é importante. Eu falo isso não para afrontar, mas precisamos ficar incomodados com isso, porque quando nos incomodamos, buscamos a mudança”.


02 de outubro de 2018.

Fonte: Assessoria de Comunicação Institucional da EMERJ.