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Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



“O feminicídio é uma morte evitável”, diz juíza em roda de conversa após exibição do “Por Elas”


“O feminicídio é uma morte evitável”, diz juíza em roda de conversa após exibição do “Por Elas”
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Na noite da última sexta-feira, dia 27, a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) reapresentou a leitura dramatizada “Por Elas”, seguida de uma roda de conversa com magistrados do Poder Judiciário e com os dois autores do espetáculo. A transmissão, via plataformas Zoom e YouTube, contou com tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).


“Por Elas”, de autoria da Silvia Monte e de Ricardo Leite Lopes, aborda, em formato de leitura dramatizada, a realidade de mulheres brasileiras que sofrem violência na relação com seus parceiros. Na apresentação, é exibido ao público um “coro de mulheres” formado por sete juízas, cada uma com uma personagem que carrega histórias de violência, algo que acontece com tantas outras mulheres.


Durante a apresentação, as magistradas contam relatos de mulheres que sofrem diariamente pelo machismo presente na comunidade: por não obedecer ao companheiro; por usar roupas que o companheiro não aprove; por sair sozinha; por não fazer as tarefas domésticas.


A roda de conversa contou com a presença dos leitores da peça “Por Elas” e também da desembargadora Ana Maria Teixeira, presidente da Comissão de Biblioteca e Cultura da EMERJ; da juíza Adriana Ramos de Mello, coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Gênero, Raça e Etnia (NUPEGRE) e presidente do Fórum Permanente de Violência Doméstica, Familiar e de Gênero, ambos da EMERJ; e da procuradora de Justiça Carla Araújo. Foram debatidas as visões do espetáculo e, nas palavras de cada um, como a leitura dramatizada desperta as mulheres foi considerado o ponto mais importante do espetáculo.


“O “Por Elas” tem essa importância enorme de conscientizar os colegas da magistratura, mas também, ao ser exibido, o texto faz com que mulheres possam se identificar com as situações, sendo algo de enorme importância para fazer com que elas se questionem se não estão sendo vítimas de algum tipo de violência, que não é apenas física, mas também psicológica”, disse a desembargadora Ana Maria Oliveira.


“O feminicídio é uma morte evitável. Ele vai dando sinais na relação afetiva ou conjugal, e muitas vezes, infelizmente, a mulher não percebe que está sofrendo violência; ela não se reconhece como vítima. Muitas vezes, podem pensar que isso é apenas uma discussão de relação”, disse a juíza Adriana Ramos de Mello.


“É um texto muito atual, embora triste. É uma forma da gente se atentar para a situação. Todas nós, agora, vamos levar as personagens dentro de cada uma, pois sempre lembraremos de todos os tipos de violência que foram retratadas na peça de forma didática. Muitas pessoas ficaram surpresas de ver que, em algum momento, já sofreram algum desses tipos de violência. Nós, mulheres e homens, precisamos ser menos críticos com as mulheres, sem apontar o dedo ou fazer comentários, tirando dela o lugar de vítima. Nossa geração tem o costume de sempre colocar a culpa na mulher, de buscar perguntas que façam a culpa cair sobre ela”, explicou a juíza Rosana França.


“Muitas pessoas assistiram as apresentações da peça e posteriormente falaram comigo que não imaginavam estar em uma relação abusiva ou que já viveram isso. Infelizmente, isso faz parte da nossa rotina. Hoje, estamos vivenciando cada vez mais casos de feminicídio. Esperamos que, no futuro, o “Por Elas” ou outra peça do tipo retrate algo não daquele tempo, mas do passado”, destacou a juíza Alessandra Ferreira.


“O trabalho do “Por Elas” é enriquecedor demais. Se conseguirmos conscientizar pelo menos uma mulher, fazer com que ela se identifique naquele papel de vítima e busque medidas, já estamos melhorando a sociedade. A conscientização é o que a dramaturgia possibilita, alcançando um número grande de pessoas”, falou a juíza Paula Cossa.


“Temos muito machismo impregnado em nossas vidas. A peça foi muito importante e transformadora para olharmos para dentro de nós e nos questionarmos alguns pontos. Fomos criadas em uma sociedade patriarcal, o que faz com que nossa geração seja machista”, disse a juíza Raquel Golveia.


“É muito fácil de perceber a violência quando ela é física, quando você apanha, mas as demais, como a psicológica, não são fáceis. Peças como essa e campanhas de informação ajudam a mulher a identificar os tipos de violência que podem estar sofrendo”, ressaltou a juíza Simone Lopes.


“A peça, primeiramente, causa um mal-estar na gente, mas também planta a semente, dá vontade de fazer alguma coisa. Acredito que todos os magistrados e magistradas que estão aqui sentiram isso”, assegurou a procuradora de Justiça Carla Araujo.


“Escrevendo a peça, percebi que todas nós sofremos violência, umas mais, outras menos, mas sofremos. A violência também está muito próxima de nós, com amigas ou parentes. Vi o quanto de assédio nós mulheres recebemos em nossa formação”, disse a diretora e autora da peça, Silvia Monte.


“Precisamos de um mundo menos violento. Precisamos desenvolver uma cultura que desmonte a violência. A naturalização de medidas violentas para conflitos é algo que preocupa, que aparenta que foi aceito que todas as soluções de conflitos seja algo violento. Temos que ir às crianças da próxima geração para educar a respeito do assunto e encerrar esse ciclo”, comentou o coautor da peça, Ricardo Leite Lopes.


Para assistir à transmissão completa da roda de conversa, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=MPceqPvqXVQ



30 de Agosto de 2021


Departamento de Comunicação Institucional (DECOM)