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Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



De Libras para o Português e do Português para Libras

EMERJ debate as questões da mulher com deficiência, em evento com acessibilidade


De Libras para o Português e do Português para Libras. EMERJ debate as questões da mulher com deficiência, em evento com acessibilidade
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Pela primeira vez, um evento da EMERJ contou não apenas com um intérprete para a Língua Brasileira de Sinais, mas também com a tradução de uma palestra apresentada em Libras para o português, dando acessibilidade aos surdos que estavam assistindo ao evento.


O webinário “Interseccionalidades: a mulher com deficiência”, realizado via Zoom e YouTube , reuniu uma professora e uma advogada cegas, uma professora surda e magistradas para debaterem questões como preconceito, falta de acessibilidade, projeções futuras, entre outras.


Ao abrir o evento, na última sexta-feira (30), a desembargadora Cristina Tereza Gaulia, diretora-geral da EMERJ, se descreveu. Ela disse a idade, a cor dos cabelos, que usa óculos, e ainda falou sobre o ambiente em que se encontrava - gabinete da Escola - para que as duas palestrantes cegas e os espectadores com deficiência visual pudessem conhecê-la um pouco melhor.


“A interseccionalidade é uma abordagem sociológica para o aprofundamento de estudos que enfatiza gênero, etnia, classe, orientação sexual e deficiência das pessoas em variados graus e tipos, assim como outras categorias sociais. A teoria sugere e examina como essas categorias agem entre si para criar maiores ou menores injustiças sistemáticas e desigualdades sociais”, destacou Cristina Gaulia, doutora em Direito pela Universidade Veiga de Almeida.


“O evento foi coordenado pela vice-presidente do Fórum Permanente dos Direitos das Pessoas com Deficiência, juíza Keyla Blank de Cnop. Participaram do encontro a juíza Adriana Ramos de Mello, doutora em Direito Público e Filosofia Juridicopolítica pela Universidade Autonoma de Barcelona; a advogada cega Deborah Prates, presidente da Comissão da Mulher do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB); a professora cega Ana Cristina Teixeira Prado, mestre em Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense, membro da Assessoria de Educação Especial da Fundação Municipal de Educação de Niterói e transcritora e revisora de textos em Braille do Instituto Nacional de Tecnologia do Rio de Janeiro; e a professora surda Lygia Neves, mestre em Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense, representante do Movimento das Surdas Feministas do Brasil (MOSB), que afirmou: “O tema do debate é muito importante. Ser mulher na sociedade é muito difícil, mas com deficiência é ainda pior”.


Em sua fala, a advogada Deborah Prates contou histórias de vida e ressaltou: “A mulher com deficiência, dentro dessa questão da interseccionalidade, tem a violência praticada contra si potencializada em grandes escalas”.


A juíza Adriana Ramos de Mello, presidente do Fórum Permanente de Violência Doméstica Familiar e de Gênero da Escola falou sobre as dificuldades de acesso à Justiça enfrentadas pelas mulheres com deficiência vítimas de violência: “Tivemos uma alteração super importante na Lei Maria da Penha, que acrescentou um parágrafo para dizer que o advogado ou a autoridade de polícia deverá informar ao juiz caso a mulher, vítima de violência, seja pessoa com deficiência. A nova norma ainda prevê que no registro policial deve constar se essa violência sofrida resultou em sequelas, se deixou alguma outra deficiência ou se resultou no agravamento de uma deficiência preexistente. Isso é importante para fins de estatísticas, pois daí sairão políticas públicas para enfrentar as dificuldades de acesso à justiça que as mulheres com deficiência encontram”.


A professora Ana Cristina fez um relato de sua vida. Contou que durante a infância, ainda com visão parcial, sofria bullying das outras crianças. Hoje, cega, explicou como acordou para a realidade e - nas palavras da palestrante - começou a enxergar o mundo com outros olhos.


“Eu tinha baixa visão até os 14 anos, derivada de um glaucoma, e sempre sofri bullying; sempre fui discriminada, maltratada e até ridicularizada. Tive consciência disso recentemente, pois eu experimentava aquilo tudo, mas não me dava conta de que eu estava sendo oprimida, agredida e desrespeitada. Com a minha cegueira, comecei a acordar. Comecei a enxergar o mundo com outros olhos. Quando comecei a me manifestar diante das atitudes preconceituosas da sociedade, minha família não me apoiava. Diziam que eu deveria ter paciência e que as pessoas não sabiam como lidar comigo. Mas como não sabiam? Eu era uma pessoa assim como elas”, disse.


Para assistir ao evento completo, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=zkzDUtvIg2s&ab_channel=Emerjeventos


Foto: Rosane Naylor



03 de maio de 2021


Departamento de Comunicação Institucional (DECOM)