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Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



“A falta de cuidado e de políticas públicas focadas para crianças e adolescentes desaparecidos é muito complicada no Rio de Janeiro”, afirma palestrante em evento da EMERJ


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“O misterioso desaparecimento dos meninos da Baixada Fluminense: a criança pobre e negra é mais difícil de achar?” foi o tema do webinário dessa quinta-feira (10), promovido pelo Fórum Permanente de Segurança Pública e Execução Penal da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ). A preocupação com a falta de respostas sobre o paradeiro das crianças de Belford Roxo reuniu magistrados, doutores e representantes de organizações da sociedade civil pelos direitos humanos. O evento contou com tradução para Língua Brasileira de Sinais (Libras).


Na abertura do debate, o presidente do Fórum, desembargador Alcides da Fonseca Neto, mestre em Direito pela Universidade Candido Mendes, disse: “Se pararmos para pensar, a população negra do nosso Estado, especialmente as pessoas que vivem nas comunidades, vêm sofrendo muito em razão da política de segurança pública adotada nos últimos governos estaduais. O que vemos, o tempo todo, são mortes atrás de mortes. Tudo isso em nome de uma pseudo guerra às drogas”.


“O Estado e os Órgãos da Administração Pública precisam se empenhar e adotar mais essa questão como algo sério, algo que demanda muito mais empenho no combate, pois observamos que isso é deixado de lado”, destacou o vice-presidente do Fórum, desembargador Luciano Silva Barreto, mestre em Direito pela Universidade Iguaçu.


Há mais de cinco meses (27 de dezembro de 2020), Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre da Silva, de 11 anos, e Fernando Henrique, de 11 anos, saíram para jogar bola no campo de futebol localizado ao lado do condomínio onde moravam, no bairro Castelar, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Mas, ao contrário do que acontecia em todas as outras ocasiões, os três meninos não voltaram para casa. As famílias ainda esperam informações sobre as crianças.


Participaram do encontro o coronel RR. Íbis Silva Pereira, mestre em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro; o professor José Cláudio Souza Alves, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo; Nívia Raposo, articuladora de territórios da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), Rede de Mães e Familiares da Baixada e do movimento “Parem de nos matar”; Patrícia de Oliveira da Silva, protagonista na criação da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, do Conselho Estadual de Direitos Humanos, da Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas de Violência de Estado; e o juiz Rubens Roberto Rebello Casara, doutor em Direito pela Universidade Estácio de Sá.


“Como nós naturalizamos que três crianças desapareçam e que o Estado não consiga dar uma resposta minimamente confortante aos familiares e amigos do Fernando, do Alexandre e do Lucas? Não há uma resposta razoável a todos aqueles que ficam indignados com o desaparecimento de crianças, mesmo sem conhecê-las”, questionou o juiz Rubens Casara.


Em sua fala, Patrícia da Silva apontou a dificuldade encontrada pelas famílias para buscar atendimento pós-desaparecimento de um filho. Ela afirmou que há diferença entre a mãe que tem um filho assassinado e a mãe que busca encontrar um filho, pois essa, em suas palavras, “enxerga o filho em cada criança e em toda esquina”. A palestrante cobrou atendimento psicológico para essas mães.


“Acompanhei muitos casos de crianças desaparecidas em que as mães chegavam chorando na delegacia e o delegado falava: ‘não vou ouvir mãe chorando’. É necessário ter sensibilidade. Precisa ter uma assistente social ou um psicólogo nas delegacias. A falta de cuidado e de políticas públicas focadas para crianças e adolescentes desaparecidos é muito complicada no Rio de Janeiro”.


“É necessário, também, que todos fiquem indignados e façam sua parte para ajudar. Isso não acontece. Só vemos repercussão quando os casos vão para a mídia ou quando as famílias ficam em cima. No caso dos meninos, as famílias divulgaram os telefones pessoais para contato e o que aconteceu? Um número de informações falsas imenso, o que atrapalha muito a investigação”, completou.


Para assistir à transmissão completa, acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=tVK_3ho2kiw&t=3012s&ab_channel=EmerjeventosEmerjeventos

11 de junho de 2021


Departamento de Comunicação Institucional (DECOM)