Na noite da última quarta-feira, 6 de maio, a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) promoveu, por meio do Instagram, uma live para tirar dúvidas recorrentes sobre o novo coronavírus. Dela, participaram o diretor-geral da EMERJ, desembargador André Gustavo Corrêa de Andrade, e o médico clínico Luis Fernando Correia, que é comentarista de saúde da CBN e possui MBA em gestão de saúde.
Com o número de infectados e óbitos crescendo diariamente no país, dúvidas surgem: O isolamento social realmente funciona? Devemos usar máscaras? A economia e os empregos serão afetados? Essas e outras perguntas foram respondidas na live, que contou com a presença virtual de cerca de 130 pessoas.
Ao ser questionado sobre a economia no país e o isolamento social, o médico Luis Correia afirmou que, sem o isolamento, não haverá economia, pois os funcionários não terão condições para realizar as atividades. Chamou a atenção também para a importância e o objetivo do isolamento social, para o qual parte da população ainda faz vista grossa. “Se a epidemia correr solta, teremos um número de óbitos e internações tão grande, que a economia não vai funcionar, pois não terá funcionários para trabalhar. O trabalhador pode ficar doente ou não trabalhar por ter alguém doente na família. O isolamento social não vai durar para sempre, nem até a vacina chegar, pois isso é impossível, mas as pessoas precisam entender que o objetivo do isolamento é evitar que todos peguem a doença ao mesmo tempo. Ele não impede que alguém pegue a doença, e sim busca evitar que todos fiquem doentes e procurem o hospital ao mesmo tempo. Nenhum país ou sistema de saúde do mundo consegue segurar uma onda de contaminados sem isolamento social.” E completou: “Os modelos matemáticos falam em 70% de pessoas contaminadas em um ano. Trazendo esse dado para o Brasil, para dar um exemplo, e arredondando os números para 200 milhões de habitantes, 140 milhões de pessoas seriam infectadas em um ano. Dessas, 20% precisariam de hospital, pois grande parte é assintomático, ou seja, estamos falando de 30 milhões de pessoas procurando assistência hospitalar pela Covid-19, sem citar outras doenças que também podem precisar de assistência. O mundo não parou; temos outras ameaças à saúde. Se todos ficarem doentes ao mesmo tempo, os 30 milhões vão procurar assistência juntos, e aí não terá vaga. Infelizmente, muitos morrerão em decorrência da doença; o que não pode acontecer é pessoas morrerem por não ter vaga no hospital, no CTI e não ter atendimento. Isso não pode acontecer”, disse.
Uma das principais dúvidas é sobre a criação de uma vacina que combata a doença. Na visão do médico, a criação dela deve levar cerca de um ano. “Assim como o Judiciário, que tem prazos processuais, nós temos prazos de pesquisa. Precisamos pegar a vacina candidata e testar em animais. Com o resultado, testamos em um humano. Sendo positivo, precisaremos recrutar um grupo de pessoas que receberão a aplicação da vacina. Mas não é fácil, pois precisamos de centenas de pessoas que aceitem fazer o teste e se disponibilizem, mensalmente, para fazer exames que mostrem se produziram anticorpos. Depois disso, a vacina precisa ser testada novamente com outro grupo de pessoas, mas dessa vez em outros países, para ver se a genética não influencia no resultado. No final, pegamos todos os dados para mostrar aos órgãos regulatórios. Durante esses testes, o tempo está passando. Pensando em uma vacina comum, fora de uma pandemia, levamos de três a quatro anos para produzir. Uma vacina pandêmica, como foi na pandemia de H1N1, levou cerca de um ano. Não espero uma vacina eficiente e segura antes do ano que vem, infelizmente. Pode acontecer antes? Sim, mas o problema é atropelar passos importantes do processo, aumentando os riscos”, explicou.
Ao final da live, o médico Luis Correia pediu para que as pessoas fiquem em casa. Segundo ele, as próximas semanas serão o pico da doença no país, então o cuidado precisa ser redobrado: “As próximas semanas darão uma angústia muito grande, uma vontade enorme de ir para a rua, pois todos estão agoniados, mas é importante ficar em casa. A situação não está boa. Falando um português bem claro, o bicho está pegando”.
Confira outros trechos da live:
Remédios: “Politizaram o que não é ciência. Já falaram, por exemplo, de remédios de pressão e muito sobre a cloroquina. Alguns remédios vão funcionar, mas depende do paciente e da situação. Tem que ter cuidado na aplicação dos remédios, pois também tem os riscos. Cada notícia de que um laboratório deu um passo na busca da cura em um remédio passa a valer milhões, as ações crescem. É preciso ter cuidado”.
Cuidado com as mãos e importância da higienização: “Levamos as mãos ao rosto muitas vezes por dia. Precisamos ter cuidado ao encostar em um local que possa estar contaminado. É importante, ao receber ou sair para comprar um produto, higienizar tudo. Temos que entender que a mão é nosso maior inimigo no momento, e, provavelmente, levaremos a mão dominante ao rosto, então precisamos sempre lembrar da higienização”.
Utilização de máscara: “Entramos na realidade do uso de máscaras, e ela serve. Muita gente está até fazendo em casa, com tecido. O uso dela funciona para que as pessoas não contaminem o ambiente e o outro indivíduo. Particularmente, tenho uma reserva sobre o uso do acessório, pois serve como um estímulo para a quebra do isolamento social, já que dá a sensação de segurança”.
O novo coronavírus foi criado em laboratório?: “Já se estuda coronavírus há muito tempo, desde o primeiro surto por que passamos, quando o Sars apareceu em 2002. Temos que lembrar que a gente já convive, todos os anos, com pelos menos quatro tipos de coronavírus e não sente, pois passa como um resfriado. Dizer que isso foi criado em laboratório é uma cortina de fumaça política”.
Os países demoraram a agir?: “No dia 7 de janeiro, a China publicou e deixou à disposição do mundo inteiro o genoma do vírus. Os especialistas sempre souberam que uma pandemia ia acontecer, e essa não será a última. Nessa data, quando todos já sabiam que a doença já tinha levado para o CTI centenas de pessoas e já havia matado outras, medidas já deveriam ter sido tomadas. A Alemanha, por exemplo, no dia 15 de janeiro já tinha o teste pronto para ser aplicado. Por mais que a China fechasse as portas, sabíamos que o vírus sairia do país. Não temos condições de barrar isso. Infelizmente, os países que demoraram a tomar medidas pagaram a conta, e o Brasil está passando por isso”.
Assista a live na íntegra em https://www.facebook.com/emerjoficial/videos/1123825034649199/
07 de maio de 2020