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Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



Superexposição na internet e a “adultização” de menores: webinar discute o assunto


Superexposição na internet e a “adultização” de menores: webinar discute o assunto
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“É um tema de grande relevância. O quanto entendemos que é razoável permitirmos que as nossas crianças e adolescentes usem as redes sociais e exponham a sua imagem? É uma preocupação que eu tenho, como pai, pois reconheço que as crianças estão muito presas à internet, e é difícil afastá-las desse fenômeno. Em que medida isso pode ser nocivo para uma criança que vê sua imagem superexposta nas redes sociais? Como a falta de privacidade involuntária pode afetar a vida de uma pessoa? Hoje, reunimos um grupo de pessoas que têm estudado e se dedicado ao tema”, disse o diretor-geral da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, desembargador André Andrade, na abertura do webinar “Superexposição infanto-juvenil em mídias sociais”, realizado nesta terça-feira, dia 29.


“Essa questão já era muito importante antes, sem a pandemia, e agora, com o isolamento, ficou ainda mais relevante, pois as crianças e adolescente estão ocupando o tempo com as tecnologias. Há diversos riscos para isso, pois tudo tem seu ônus e bônus”, completou o presidente do Fórum Permanente da Criança, do Adolescente e da Justiça Terapêutica, juiz Sérgio Luiz Ribeiro de Souza.


O evento, promovido pelo Fórum, também teve a presença da jornalista Renata Tomaz; do professor Filipe Medon; do coordenador do Grupo de Trabalho da UNICEF, Pedro Hartung; e da coordenadora editorial da Revista Brasileira de Direito Civil (RBDCivil), Ana Carolina Brochado Teixeira, que deu exemplos de crianças que sofrem com a adultização midiática e familiar.


“O caso clássico no Brasil tem sido o da MC Melody, que é uma criança de apenas 13 anos, mas que choca quem vê nas redes sociais, pois não parece. É uma funkeira mirim, com mais de três milhões de seguidores no Instagram, que vive um processo muito precoce de adultização, algo incentivado pelo próprio pai e que é alvo de diversas críticas. Ela tem uma irmã, de 15 anos, que também tem o mesmo processo. Outro caso é da Millie Bobby Brown, estrela mirim da série Stranger Things e que tem estrelado alguns filmes. É uma reflexão a respeito da adultização, pois a revista americana ‘W’ publicou que a TV americana estava mais sexy, apresentando nomes de personalidades famosas, como Nicole Kidman, por exemplo, e na mesma lista estava a Millie Brown, sendo ligada como uma ‘sexy symbol’. Hoje, a atriz, que tem 16 anos, mostra como o tratamento da indústria do entretenimento também é diferente, pois ela, ao lado de atores da série, parece uma adulta, enquanto os outros se vestem conforme a idade”, disse Ana.


Em sua fala, o professor Filipe Medon tratou da superexposição voluntária feita pelos pais da criança, expondo a imagem e os dados do menor nas redes sociais.


“Diante da dificuldade de conciliar as atividades domésticas e de home office na pandemia, muitos pais têm preferido barganhar com os filhos, dando o celular para a criança ficar quieta. Vivemos em uma sociedade do espetáculo, onde se exibir nutre o ego. Se exibir na rede é uma forma, ainda que ilusória, de se sentir aceito e de pertencer na sociabilidade, tanto para os pais, quanto para os filhos. Hoje, temos no YouTube partos sendo transmitidos em tempo real, e isso mostra como a primeira imagem da criança já está disponível para todo mundo; a criança mal nasceu, e a sua imagem já está na internet. Diversas pessoas criam perfis nas redes sociais para seus filhos, fazendo com que isso se torne em ‘Big Brother’, e posteriormente essa criança assumirá o controle da conta, postando sobre ela mesma”.


O professor ainda destrinchou a respeito dos possíveis danos que a criança sofrerá com a exposição na internet:


“Será possível tornar a criança uma celebridade, atraindo simpatia e antipatia dos seguidores, algo que é um efeito duradouro. A criança também sofrerá riscos com a segurança, pois terá seus dados e sua rotina de vida divulgados na internet. Além do bullying e cyberbullying, entra uma questão ainda mais perigosa: a captação de imagens por pedófilos para as chamadas “deep fakes”. Outras duas questões são o roubo de identidade e a ausência de controle sobre a administração da renda obtida com a publicidade eventualmente feita pelo menor”, explicou.


Para saber mais sobre o tema, acesse a transmissão na íntegra do evento através do link: https://www.youtube.com/watch?v=DcweQ52cOjI&ab_channel=Emerjeventos



29 de setembro de 2020