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Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



Helio de La Peña conversa com André Andrade no "Bate -Papo com o Diretor"


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"Humor e liberdade de expressão" foi o tema do encontro do desembargador André Andrade, diretor-geral da EMERJ, com Helio de La Peña, na live desta quinta-feira, 09 de julho, no Instagram.


O desembargador apresentou o convidado como ator, redator, escritor, roteirista, apresentador e humorista, mas Helio fez questão de acrescentar: "E botafoguense".


Ao ser questionado se as pessoas estão perdendo a capacidade de entender as metáforas, as ironias, o humorista respondeu: "Esse movimento do politicamente correto, do lugar de fala, do pertencimento, é bastante positivo. Mas, como tudo, se for levado ao pé da letra, se ficar radical, a coisa perde o sentido e o efeito passa a ser o contrário. Não sou do tipo que diz: 'bons tempos aqueles que podíamos fazer piadas de racismo, de mulheres, tempos em que estávamos na idade da pedra'. Acho que não é por aí. Mas de vez em quando você quer ir à idade da pedra. E por que você não pode ir?"


Ele ainda falou da interpretação das piadas antigas fora do contexto: "O que me incomoda muito é a pessoa, hoje, pegar um post ou um vídeo de 1990 e querer que as pessoas se comportem naquele tempo de acordo com o raciocínio de hoje. É impossível. E a garotada que nasceu no ano 2000, não conheceu o século XX, fica achando que no seu mundo perfeito não houve um passado. Era um outro momento, em que estávamos preocupados em romper o silêncio da ditadura. Nós, artistas, queríamos testar quais eram os novos limites e a população estava disposta a pagar para ver".


Helio de La Peña ainda destacou: "Por conta da ditadura, as pessoas estavam acostumadas a falar por metáforas, mas perderam isso. Tanto é que as pessoas não leem mais versão, e só veem filme de ficção se estiver escrito: 'baseado em fatos reais'. A ficção perdeu seu lugar de fala e com isso as pessoas perderam a capacidade de interpretar".


O humorista ainda falou sobre o baixo nível da educação no Brasil: "As pessoas estão mal-preparadas, não conseguem ler e interpretar notícia de jornal, imagina a piada!"


O desembargador André Andrade citou o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) nos Estados Unidos para falar sobre o racismo no Brasil. La Peña ressaltou: "O movimento lá foi tão forte, que reverberou no mundo inteiro, inclusive aqui no Brasil. E, curiosamente, quando a onda chegou aqui, encontrou notícias frescas, como a do menino que foi morto dentro de casa baleado, e o caso de Recife, do menino desprezado pela dona da casa, que acabou caindo do prédio. Isso dando apenas dois exemplos, porque são vários exemplos".


Ao reafirmar que não se trata de preconceito social, mas racial, Helio de La Peña ressaltou: "O branco pobre sofre menos, tem mais oportunidades, pode se passar por rico. O preto, mesmo sendo rico, tem a cor da pobreza, como disse o Celso Athayde (ativista social). E o branco na favela tem a cor da riqueza. Então não é uma questão de classe, é uma questão racial".


Assista na íntegra a live em https://www.youtube.com/watch?v=YHL8ae4VoBc




10 de julho de 2020