Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro
Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro
“A importância deste tema é que percebemos, ao longo da história, que muitas vezes o Estado não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo, sendo deficiente principalmente com as pessoas que mais precisam dele. O que vemos, até mesmo na nossa atividade como magistrado, é que, as igrejas fazem esse papel”, comentou o juiz Carlos Gustavo Direito, presidente do Fórum Permanente de História de Direito da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, na abertura do webinar “A Igreja e os Movimentos Sociais”, realizado na última terça-feira, 2.
O evento foi realizado na plataforma Zoom e teve também transmissão pelo YouTube. Participaram, além do presidente do Fórum, o diretor-geral da EMERJ, desembargador André Gustavo Corrêa de Andrade; a professora Bruna Marques Cabral e o pastor Neil Barreto.
“Aqui se fala muito sobre a lei que pega e a que não pega. O Brasil tem um sistema caracterizado por uma inflação legislativa muito grande; não é por falta de instrumento político que as coisas não funcionam na sociedade brasileira, e sim, em muitas das vezes, por falta de vontade política de fazer com que determinada legislação seja implementada”, comentou o diretor-geral da EMERJ, desembargador André Gustavo.
O pastor Neil Barreto falou sobre as ações sociais realizadas pela igreja: “A influência da igreja na sociedade é indiscutível. Nossa ação está presente em todas as áreas da sociedade, como, por exemplo, o apoio à infância desde o acompanhamento de gestantes. Falando particularmente daquilo que nós, como a comunidade Sulacap, praticamos, começamos a trabalhar efetivamente, em tempo integral, com meninas gestantes em estado de vulnerabilidade e as acompanhamos em toda a gravidez e gestação. Ajudamos também no enxoval e acompanhamos a criança até os 2 anos de idade. Criamos estabelecimentos de creches e temos um projeto de educação infantil com ensino fundamental e médio. Acreditamos que a formação do cidadão começa nesse ponto, desde a infância”. E completou: “Trabalhamos, como igreja, a visão de alcançar o homem como um todo. Temos projetos de formação profissional com diversas parcerias; trabalhamos com apoio às famílias, com cursos para casais, preparação para casamento, educação de pais e empreendedorismo em casal; trabalhamos também com a terceira idade, disponibilizando assistência social, fisioterapia, abrigos e também ajudamos na inserção tecnológica; apoiamos a saúde, enquanto conscientização e prevenção da dependência química, trabalhando com dependentes químicos ambulatorialmente e também com a família deles, que é conhecida como codependente. Há também o trabalho com prevenção ao suicídio e com deficientes físicos. Trabalhamos com muitas vertentes da sociedade, buscando dar qualidade ao ser humano, além de darmos apoio à cultura e à arte, com escola de música, teatro, som e vídeo”.
É de consenso geral que o Estado é laico, mas alguns temas viram debates sobre o assunto, como, por exemplo, crucifixos em audiência, bancadas religiosas e slogans. Em determinado momento do debate, a professora Bruna Marques foi questionada sobre o período que o país vive e qual seria a opinião dela sobre o assunto.
“Sobre a pergunta do desembargador André Gustavo, em relação às religiões e ao contexto atual que estamos vivendo, noto um desrespeito à laicidade, pois, apesar de a Constituição dizer que vivemos em um Estado laico, a participação, seja da igreja católica, seja da evangélica, em partidos políticos, fazendo alianças, demonstra um desrespeito, pois impõe os dogmas e doutrinas para toda a sociedade. Vivemos em um país onde há diversas crenças e não crenças, e vemos muito a ideia de religiões cristãs ter uma pegada de conversionismo, de querer fazer com que o outro siga a mesma religião e os mesmos pensamentos. Ao meu ver, na atualidade, a participação desses grupos das igrejas estaria sendo um projeto de poder para manter a influência na sociedade”, respondeu.
A transmissão do evento pode ser assistida pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=gw5PHj6fspl
04 de junho de 2020
