Fechar

Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



André Andrade e Sérgio Branco conversam sobre cultura e literatura durante live no Instagram da EMERJ


André Andrade e Sérgio Branco conversam sobre cultura e literatura durante live no Instagram da EMERJ
clique na imagem para ampliar

A Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) promoveu, na noite da última quinta-feira, dia 2, por meio do Instagram (@emerjoficial), uma live para debater “A arte de resistir: um diálogo urgente entre o Direito e a Cultura”. O “bate-papo com o diretor” teve a presença do diretor-geral da EMERJ, desembargador André Andrade, além do professor e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), Sérgio Branco.


“Como sempre, trazemos convidados especiais para falar de temas interessantes, relevantes e importantes na atualidade em que vivemos”, ponderou o diretor-geral da EMERJ, desembargador André Andrade, na abertura do encontro.


O professor Sérgio Branco tratou da importância da cultura, principalmente em tempos de pandemia.


“Estive conversando com alguns amigos do trabalho e acredito que a cultura está ajudando um pouco a minimizar os efeitos da pandemia, com acesso a filmes, textos e músicas. Há 30 anos, os efeitos de uma pandemia eram mais difíceis de serem enfrentados”, disse.


O bate-papo funciona da forma mais leve possível, possibilitando perguntas, respostas e interação com o público que está assistindo à transmissão ao vivo. Em um dos momentos, o desembargador André Andrade levantou a questão: “No momento atual da política e da pandemia, também estamos vivendo uma crise na cultura. É um problema que está colocando-a em cheque, eventualmente afetando as manifestações artísticas e culturais. Na sua visão, este está sendo um momento difícil para a cultura e a arte no Brasil?”. O professor respondeu: “Essa pergunta comporta muitos níveis de debate, mas creio que o mais evidente é, sem dúvida, o ataque à cultura e o seu desprestígio institucional. Hoje, infelizmente, vivemos em um país cujo o Estado não percebe a importância da cultura, da educação e da ciência. É um momento muito peculiar para falarmos sobre isso pois a cultura tem nos ajudado a passar melhor por este momento dramático, assim como a ciência”. Ele lembrou também as notícias falsas que correm diariamente: “A fake news é exemplo da falta de educação formal e digital, causando a falta de um pensamento crítico. Temos um problema de governo, que não valoriza tudo isso”, explicou.


Ainda sobre o tema, o magistrado apontou a falta de financiamento para a execução de manifestações artísticas no país.


“Muitas vezes uma manifestação cultural depende de um financiamento, pois algumas pessoas que produzem essas manifestações artísticas não têm condições de desenvolver o seu potencial e mostrar o trabalho. Não vejo uma política cultural, pelo contrário, existe um abandono do tema”, comentou o desembargador André Andrade.


“Afinal, o que é um livro clássico?”, questionou o magistrado. Para o professor, uma obra clássica é aquela que ultrapassa as barreiras do tempo e fala com a atualidade.


“Minha impressão é que o clássico vai ser aquela obra que, independentemente do tempo que ela seja acessada, falará com o momento. Você vai pegar o livro e, apesar de ter sido escrito há 100 ou 200 anos, você entenderá que a obra está falando com o atual momento”.


Em um momento de descontração, mas de essencial importância na disseminação do conhecimento, os participantes “trocaram figurinhas”, como disse o magistrado. “Vamos trocar figurinhas. Quero pedir que você recomende alguns autores, sejam eles internacionais ou nacionais, que todos deveriam ler e ter contato”.


Citando dois autores estrangeiros e outros da língua portuguesa, o professor Sérgio Branco respondeu a solicitação.


“Um autor que eu recomendo é o Ian McEwan, inglês. Ele é um escritor de teses, então, os livros sempre defendem algo. Recentemente, o autor escreveu um livro chamado “Máquinas como eu: e gente como vocês”, no qual aborda a inteligência artificial. É um romance muito interessante. Outro autor muito bom é o J. M. Coetzee, sul-africano, que também escreve sobre teses. Ele não escreve um romance só para contar uma história bem contada; por trás, sempre tem um propósito e uma ideia para ser defendida”. E completou, sobre livros em língua portuguesa: “Sou absolutamente apaixonado pelas obras do José Saramago. “Ensaio sobre a cegueira” é um dos melhores livros já escritos no mundo. “A caverna” é fascinante, uma crítica muito contundente ao consumismo, ou seja, ao capitalismo de consumo. É uma obra simplesmente brilhante. Sobre escritores brasileiros, eu gosto demais do Bernardo Carvalho, carioca, que ganhou diversos prêmios. “Nove noites” é um livro que eu gosto muito e recomendo”.


O desembargador André Andrade também deixou sua recomendação: “Clarice Lispector tem contos muito interessantes. Li, recentemente, “Felicidade clandestina” e é muito bonito. Algo simples, um conto pequeno, mas muito bom. Aos que querem começar a ler as obras da autora, recomendo começar pelos contos, pois são sensacionais”, finalizou.


A live foi realizada pelo Instagram, mas sua íntegra pode ser acessada pelo YouTube através do link: https://www.youtube.com/watch?v=I04aVNnuzTE&t=2904s



03 de julho de 2020