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Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



Adilson Moreira, convidado da live do Instagram da EMERJ, fala sobre racismo estrutural


Adilson Moreira, convidado da live do Instagram da EMERJ, fala sobre racismo estrutural
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Adilson Moreira foi o convidado do desembargador André Andrade para o "Bate-Papo com o Diretor" desta quinta-feira, 23 de julho.


Mineiro, de Belo Horizonte, Adilson Moreira é professor universitário, escritor, doutor em Direito Constitucional Comparado pela Universidade de Harvard, doutor em Direito Constitucional pela UFMG e pesquisador que se dedica à questão racial.


"Ainda existe esse mito de que o Brasil é uma democracia racial e de que o preconceito é de classe, o que você diz?", perguntou André Andrade.


O professor explicou: "Todos os povos tentam legitimar as formas de distribuição de oportunidades. O Brasil, desde a década de 30 do século passado, desenvolveu uma narrativa racial que é a da democracia racial. Ao dizer que o racismo não existe no Brasil, algumas pessoas brancas agem de maneira estratégica, reconhecem o racismo, mas querem impedir que isso se torne uma forma de mobilização política. Outras pessoas agem de forma a tentar eliminar qualquer tipo de conscientização de que a opressão negra está relacionada com o privilégio branco. A ideia da democracia racial permite que pessoas brancas convençam a si mesmas de que elas não têm absolutamente nenhuma responsabilidade social, política, individual e institucional com os processos de reprodução da opressão racial. A raça é o elemento fundamental de diferenciação social neste país".


Sobre o tema da live "Racismo Estrutural", Adilson Moreira ressaltou: "O conceito de racismo estrutural está relacionado à ideia de que a prática do racismo está presente nas diversas instituições públicas e privadas. E essas instituições estão interligadas, daí a relevância das práticas afirmativas. Quanto maior o número de pessoas negras, de pessoas de origem asiática e de pessoas indígenas nessas instituições, maiores serão as chances de que as decisões tomadas dentro dessas instituições tenham impacto positivo na vida de pessoas negras".


O professor acrescentou: "Quando criamos cotas para negros nos programas de graduação e de pós-graduação das universidades, permitimos que pessoas negras produzam conhecimento sobre as diferentes operações do racismo, do sexismo, da homofobia, do classismo. As ações afirmativas são importantes porque, se somos um país miscigenado, essa miscigenação também precisa ocorrer nos círculos de poder".


Em relação ao movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), dos Estados Unidos, Adilson Moreira destacou: "Há uma diferença significativa entre relações raciais no Brasil e nos Estados Unidos. Essa diferença é a existência de pessoas e instituições efetivamente progressistas, efetivamente comprometidas com o protagonismo negro. Eu observei nos Estados Unidos décadas de solidariedade entre diversos grupos raciais, algo que não permanece apenas no discurso, é refletido em ações concretas. Neste momento, lá há uma maior conscientização de pessoas brancas de que o discurso de ódio tem um objetivo estratégico: manter o interesse do grande capital. E uma das formas de manter o interesse do grande capital é impedir mobilização política em torno de identidades".


Um dos temas estudados pelo professor é o racismo no humor. Ele destacou: "Uma coisa é o humor hostil, a piada criada por membros do grupo dominante com o objetivo específico de degradar minorias do ponto de vista moral. Outra coisa são as piadas criadas dentro do próprio grupo como forma de resistência cultural, como insubordinação e como crítica. O racismo recreativo é uma política cultural".


Adilson Moreira encerrou sua participação na live com um recado: "Eu quero dizer para as pessoas brancas que riem de piadas racistas ou que presenciam atos racistas e não falam nada; vejam só: essa pessoa branca que está contando piada racista te desprezaria, te detestaria, te odiaria se você fosse uma pessoa negra. Isso significa que o motivo fundamental pelo qual essa pessoa convive com você, não é porque você é um grande ser humano, é porque você é branco. Então, veja como o racismo cria consequências negativas para pessoas brancas".


O desembargador André Andrade encerrou a live fazendo um convite ao professor para que ele integre um novo Fórum Permanente da EMERJ, a ser criado para tratar de temas relacionados ao racismo.


"Não há democracia em que grupos são oprimidos. Isso não é democracia. A democracia é baseada na ideia da igualdade, na ideia de que todos tenham a mesma oportunidade real, aquela igualdade prevista na Constituição", concluiu o desembargador.


Livros sugeridos durante a live:


"Racismo recreativo"- Adilson Moreira "Pensando como um negro. Ensaio sobre hermenêutica jurídica" -Adilson Moreira "Entre o encardido, o branco e o branquíssimo. Branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo" - Lia Vainer Schucman



Assista na íntegra a live em https://www.youtube.com/watch?v=drKt4rBTKEs



24 de julho de 2020