Fechar

Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



Fórum Permanente de Direito e Relações Raciais promove reflexão sobre racismo e entretenimento


clique na imagem para ampliar


"Este Fórum é inovador para o sistema de Justiça brasileiro. Apesar de haver 132 anos da Lei Áurea, o fator raça ainda é determinante para as desigualdades, inclusive o racismo institucional", afirmou a presidente do Fórum Permanente de Direito e Relações Raciais, Lívia Sant'anna Vaz, na abertura do webinar "Representatividade: Uma Questão de Justiça - Conversas sobre Racismo e Entretenimento". O evento ocorreu na manhã desta quarta-feira (25), através das plataformas Zoom e YouTube.


Todos os envolvidos no evento contaram um pouco de suas experiências profissionais, as dificuldades enfrentadas e a escolha da sua atual profissão. Alguns deles tiveram que abandonar sua primeira opção de curso por não encontrarem um representante negro naquela área, como foi o caso da promotora de Justiça Lívia Vaz, que aos 17 anos desistiu do Jornalismo para fazer Direito. Assim como ela, também ocorreu com o juiz André Luiz Nicollit, vice-presidente do Fórum, cujo primeiro trabalho formal foi como ator e diretor de teatro, mas desistiu da carreira para seguir como jurista, pois acreditava ser uma área que não iria fazer uso da questão estética para alcançar seus objetivos, naquela época.


A presidente do Fórum complementou a fala do juiz Nicollit, ao dizer que o corpo da mulher negra no Judiciário é sim uma representatividade estética: "A questão estética na área jurídica é fundamental para a mulher negra, pois a gente usa esse corpo como arma política. Quando eu me coloco como mulher negra, eu não estou me enfeitando com os meus turbantes, tranças e cabelo afro, apenas estou mandando uma mensagem de que nós estamos nesses espaços e vamos estar cada vez mais, como nós somos, e não como eles querem que nós sejamos".


O ator Nando Cunha falou de racismo recreativo e como os programas de entretenimento foram fundamentais para a criação desse imaginário na população: "A TV foi muito importante para formar esse estereótipo da gente e criou o racismo recreativo", afirmou o ator, que posteriormente contou sua experiência em algumas produções: "Eu tinha que estar sempre sorrindo, recreando o público. Se eu estivesse calado, sério, para eles eu não estava bem. Eles aceitam a gente enquanto estivermos nesse modo".


Ao tratar desse assunto, o professor Adilson José Moreira comentou sobre seus dois livros que abordam o tema: O que é racismo recreativo? e Racismo recreativo.


"As sociedades criaram normas, por quererem a respeitabilidade social. O racismo serve para garantir que as oportunidades sociais sempre irão permanecer nas mãos de pessoas brancas, e para isso acontecer, é preciso que as pessoas brancas sejam vistas como as únicas capazes de atuar no espaço público, pois a respeitabilidade social é de homens brancos e heterossexuais. O requisito para que a respeitabilidade social seja exclusiva desse nicho é de que membros de minorias raciais não podem ter o mesmo nível de respeitabilidade social que pessoas brancas, nunca", disse o escritor Adilson Moreira.


O artista Sérgio Loroza declarou que através do humor é possível propor ações políticas de forma suave, porém consistente: "O termo entretenimento é visto de uma maneira depreciativa, é colocado como menor. Mas nós podemos fazer uso do entretenimento para levantar questões importantes de forma humorada, pois através do humor a gente consegue colocar a verdade de modo mais leve".


Para a professora de Direito da PUC Ana Carolina Mattoso Lopes, a indústria do entretenimento deve criar mais espaços para a comunidade negra atuar nesse meio, para que o racismo recreativo termine: "Onde estão as pessoas negras na produção desses produtos? Poucas são as pessoas negras que estão na criação de uma produção, sejam roteiristas ou diretores. Para que esse problema seja mitigado, é preciso aumentar a quantidade de pessoas negras nesses trabalhos, para que a partir daí possamos ver novas imagens e a população negra seja vista de outra forma".


Para assistir aos webinares da EMERJ, acesse o canal do YouTube “EMERJ Eventos”. Caso se interesse por este, clique no link: https://www.youtube.com/watch?v=ciDnNxRD-u4


Leia também a matéria https://www.youtube.com/watch?v=ciDnNxRD-u4



26 de novembro de 2020